quarta-feira, 6 de abril de 2011

Olhando-me ao espelho

Olhando-me ao espelho… vejo que as lágrimas correm-me no rosto, retirando à sua passagem qualquer réstia de maquilhagem ainda sobrante. Alagam os olhos vermelhos e correm sobre a delineação preta demarcada na face. A expressão está vincada e enraizada em cada linha repuxada e que teima em não deixar parar as gotas que fluam a cada pensamento que se transformam em picos de soluços ou simplesmente porquês. O corpo encostado à parede vai descendo à medida que vai caindo a pressão da emoção e as forças da revolta vão empurrando em câmara lenta o corpo ali sentido. A cabeça latejante do esforço e do turbilhão de imagens que se ultrapassam e montam o filme da angústia plenamente instaurada como se uma ante-estreia fosse e todos ali estivessem. Os pingos que originam o mar de lenços ao redor como se a presença de alguém me reconforta-se e me abraçasse com a ternura de quem me está a segurar de forma a não deixar entrar o vazio. As palavras que ecoam no silêncio das paredes são-me trazidas por megafones sem organização e que explodem como bolhas de sabão em cada membro daquela interrogação. As mãos irrequietas percorrem sem qualquer acção o espaço de tal sensação, tremendo ao tentar compreender a razão para tamanha reacção e destino como suplicio ou penitência para o estado de alma sem exclusão. Os lábios esbugalhados pintados a vermelho paixão não faltam à sessão de treino de surf em pleno alto mar, nem ao pavor de encontrar a razão de se romper com a ligação que durante tanto tempo esteve presente com o sinal de impedido. O som abafado, contido dentro da lâmpada que muitas vezes foi ligada e deixada a consumir sem restrição não se faz ouvir mesmo depois de esfregar a lamparina donde o génio deveria de sair para me ofertar com os seus três desejos inimagináveis. O embaciado que se desvanece a cada respiração desenha as entoações e as canções ouvidas pela porta do lado que bate ao sabor das vibrações sem pedir licença para entrar. Olhando-me ao espelho… gostava que fosse verdade! Que conseguisse limpar a alma e o coração com a bênção de um choro sentido. Olhando-me ao espelho…. Penso: “Desejava saber chorar!”.