quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Aquela janela


Olho, espreguiçando, pela irreal e elaborada janela do quarto nu. O arco-íris reina como pano de fundo do dia que acabou de acordar. Cores nítidas, precisas, elegantemente desenhadas sobre o fino risco transparente da divisão das propriedades presentes como um quadro pintado a aguarelas de uma criança perfeccionista. As nuvens deixam escapar pequenos vestígios de tristeza momentânea. O sol, em toda a sua forma exuberante, lança leves sorrisos quentes de alegria e prazer. Dirijo-me até à clara banheira de robustez antiga, com o seu ar pós-moderno, sob o fundo cor de pêssego e salmão aos pés do quarto, com vista priveligiada para o exterior. Rodo, para o lado esquerdo, a torneira em forma de estrela dourada com uma lágrima vermelha no epicentro. A água desliza suavemente sob as criações impressionantes da mancha de fumo, acobreando com leveza e cremosidade o rasto deixado pelo gel de banho apaziguante que leva a imaginação além fronteiras com o seu cheiro zen a natureza, flores do campo, liberdade, alma restaurada, eternidade fugaz do momento. Pétalas de malmequeres amarelas e laranja esvoaçam ao longo da onda de calor até sucumbirem suavemente na camada visível da água tão eloquentemente cremosa. Acendo velas perfumadas de variadas cores que ajudam a criar o cenário de idealização momentânea. Jogo o usado e vistoso roupão de banho rosa no chão sob o manto creme sujo de pelo iriçado. O corpo nú estremece ao sentir o calor escaldante da água a verter sob a camada visível de pele sensível e suave. Deito-me. Fecho os olhos e deixo que o elixir do relaxamento comece a tomar efeito sob corpo, mente e alma transferindo as vibrações necessárias para o fortalecimento dos pensamentos, acções e palavras. Durante longos e ausentes segundos o meu mundo interior foi invadido pela leveza do ser e da existência perante a mãe natureza. Retorno ao agora.

2 comentários:

Fernando disse...

Adoro o jeito em que, quando leio esse texto, ele me leva até o momento em que tudo acontece.
Mais uma de suas maravilhas!!!

beijo.-
F.

Hélder disse...

Escreves muito bem. Escrita suave, envolvente, escorreita, sensível, delicada. Se um dia tiveres uma grande história para contar, tenho a certeza de que a iremos ler apaixonadamente.
Para já, estes pequenos contos, são óptimas incurssões no género. Grande potencial!
Bjs.