quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Jus na Fonte

Fecho a porta do carro. Sigo em frente sem olhar para trás, sem olhar para ti, sem olhar para nós, sem olhar para o passado. Percorro o caminho anestesiada pela presença da existência humana e como cada pormenor afecta até o mais ínfimo descrente. Cada passo uma ideologia constrangedora de saberes e sabores nacionais e ficcionais que alimentam quem os consegue absorver na imensidão do ser e do vazio repleto de luz incandescente que nos assolapa a cada murmúrio teatral. Cada gesto uma compensação de algo inerentemente proporcional ao feito e feitio de quem éramos, somos e seremos com ou sem género, com ou sem capacidade para sentir o que de mais importante sustém a sanidade térrea do prazer descompensado em que a loucura se torna no aliado sem cúmplice a rastejar como peso morto ou vivo sem vivência ou explicação. Cada balanço uma libertação sem exagero de algo esquecido ou apenas adormecido no recôndito dos tempos perdidos ou marcados no ser, o ser que caminha junto a nós como alma ou bicho de estimação a quem queremos muito e também mal, a quem pedimos perdão e rimos... como falcão a planar o monte em busca do sim e do não. Cada olhar nova forma de expressão vincada sob o pretexto da razão com ou sem capacidade para a acidez do antigo ou novo a experimentar o corpo, saco preto jogado sobre o manto do prazer onde a existência ou falta dela faz de nós pequenos parasitas emocionalmente ou não perdidos na pandemia da experiência da previsão e sabor resumido a odor com ou sem dor. Cada detalhe projectado sob a forma de moda com ou sem nexo de estação onde temos a sensação de querermos ser sempre mais com ou sem solução para parecermos iguais cópias do mesmo significado ou sem ele como ratos no labirinto à procura da saída mais próxima para a perfeição acompanhada da ilusão de pertença pela mão tomando o controlo babilónico da erupção. Cada postura uma sugestão, um preliminar da natureza validado pela abstenção da maioria antagónica em regime de liberdade condicional apática ou não movimentada através dos escombros insignificantes da sociedade prisional insistindo coerentemente em viver ou sobreviver dentro de si, de cada um de nós eternos mercenários da vida que nada apressamos a não ser existir ou subsistir. Cada passo, gesto, balanço, olhar, detalhe, postura se incorpora na soltura ganha e perdida pelo tempo caminhado ao mesmo tempo perdido no desafio da existência pessoal social onde cada um de nós mergulha na diferença da raça imaginária que produz o sonho individual de conquistas e guerras desbravadas pelo negro da personalidade simultaneamente enriquecido na doçura da beleza sedutora torneando a fraqueza da mente em plenos nenúfares de orgia brilhante onde as ideias nascem e o paraíso se sente camuflado pela presença ensurdecedora da música intemporal… sobre a vida.

Abro a porta do carro. Morro para o dia. Ouço o mote. Jus na fonte. Que mergulhei.

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